Ele não ouve, então ele não pode se comunicar?
Alguns podem achar essa pergunta boba um absurdo, mas por muito tempo e até hoje ainda existem indivíduos que pensam que as pessoas com surdez são incapacitados. Porém, atualmente existem muitos estudos sobre o assunto e já se provou que a surdez não é sinônimo de dificuldade ou barreira. Essas barreiras existem mas são criadas e impostas pela sociedade. E o ponto chave onde podemos derrubar esses muros é a ESCOLA.
Para se discutir o assunto é preciso ter conhecimento sobre tal, então posto aqui um pequeno resumo de um trabalho que fiz em grupo na Faculdade a algum tempo. O texto faz um levantamento sobre as filosofias e os métodos que
nortearam a educação das pessoas com deficiência auditivas e como essas pessoas eram vistas pela sociedade ao longo da história. Além é claro de analisar os pontos negativos e positivos dessas metodologias.
Há princípio a sociedade atribuía uma visão extremamente negativa a
surdez. Na antiguidade os surdos eram vistos de diversas formas, algumas vezes
como merecedores de piedade e compaixão, outrora como pessoas castigadas pelos
deuses ou consideradas enfeitiçadas. Sendo assim, muitas vezes eram abandonadas
a própria sorte, ou pior, eram sacrificadas.
Essa concepção fez com que as pessoas surdas ficassem à margem da
sociedade sem nenhum direito assegurado até o século XV.
Já no século seguinte, começaram a surgir novos pontos de vistas com os educadores de surdos. O italiano Girolamo Cardano (1501-1576) é um exemplo, foi o primeiro a afirmar que o surdo deveria ser educado e instruído, afirmava também que era um crime não instruir um surdo. Ele utilizava sinais e linguagem escrita para ensinar a língua oral de seu país. Outro precursor foi o Monge Beneditino Pedro Ponce de Leon (1520-1584), que utilizava além de sinais, treinamento de voz e leitura de lábios. Foi ai que surgiu o Oralismo que é um método de ensino para surdos, no qual se defende que a maneira mais eficaz de ensinar é através da língua oral. Em 1880 no congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milão, foi colocado em votação qual método deveria ser utilizado na educação dos surdos. O Oralismo venceu e o uso da língua de sinais foi oficialmente proibido. Tal método imperou até 1970.
Já em 1968, surge a filosofia da Comunicação Total que utilizava todas as
formas de comunicação possíveis na educação dos surdos, acreditando-se que a
comunicação e não apenas a língua, deve ser privilegiada. Ou seja, acreditava
que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não deveriam ser deixados
de lado
só por causa da aprendizagem da
língua oral, defendendo assim a utilização de qualquer recurso espaço
visual como facilitador da comunicação.
Quase duas décadas depois, surge o Bilinguismo, que parte do princípio que
o surdo deve adquirir como sua primeira língua, a língua de sinais com a comunidade
surda, facilitando o desenvolvimento de conceitos e de sua relação com o mundo.
Isto é, a Língua de Sinais deve ser oferecida à criança surda o mais
precocemente possível e a língua nativa do seu país deve ser ensinada como a segunda
língua.
No Bilinguismo o ponto positivo é que a criança
surda vai estar em contato com a língua de sinais desde o seu nascimento,
facilitando assim, o seu desenvolvimento tanto nesta modalidade quanto, mais
tarde, na modalidade escrita. No Bilinguismo, não há, aparentemente, um ponto
negativo que pode ser ressaltado são as dificuldades enfrentadas em conseguir
que crianças surdas de pais ouvintes tenham contato desde cedo com a língua de
sinais, o que acarreta numa dificuldade cognitiva no futuro da mesma.
Em suma, hoje, é preciso lutar em defesa do Bilinguismo,
ele existe, porém, em diversos lugares tal filosofia ainda é vista como utopia,
ou é algo que fica apenas na teoria. É preciso a ação, a prática, é necessário
que de verdade sejam levadas a sério toda essa corrente de pensamento, pois
vimos que pra chegar até aqui, foi preciso muita luta, muita reivindicação.
Precisamos, acima de tudo, dar “voz”, não apenas porque são surdos, mas porque
a sociedade quis calar.
Obs: Existe um filme interessante que fala um pouco do drama que a pessoa surda e sua família passam. Este filme já é um pouquinho velho, porém aborda uma temática muito atual, a surdez.
E Seu Nome é Jonas (1979)
Jonas (Jeffrey Bravin) é uma criança solitária. Por ser Surdo foi diagnosticado erroneamente com retardo mental. Após descoberta do erro médico a Mãe de Jonas (Sally Struthers) e o pai (James Woods) lutam para estabelecer a comunicação de seu filho. Os especialistas abanam a cabeça e cacarejam suas línguas e proíbem qualquer tipo de comunicação gestual, em defesa da linguagem oral. Com isso, Jonas não consegue se inserir socialmente. Sem consegui se comunicar com sua família, seu pai sem esperança e aborrecido com o preconceito que sofre pelo fato do filho ser surdo abandona a família. Porém, a mãe de Jonas determinada a ajudar o seu filho continua na luta, mas sem avanços ela vai em busca de novos métodos de tratamento para o filho. Então finalmente consegue encontrar uma alternativa e ensina a linguagem de sinais a criança, abrindo seu mundo intelectual e emocionalmente.
And Your Name Is Jonah (TV Film) – USA
Dicionario online de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sacramentos e Penitências