Acredito que muita gente já leu ou ouviu falar deste livro, no mínimo algum professor já deve ter indicado ou comentado sobre ele, bem, é um ótimo livro. Comprei ele em 2007 devido um trabalho para a faculdade, porém depois disso o guardei na gaveta onde ficou lá "dormindo" até este ano. No primeiro momento eu gostei da obra, entretanto não sou amante de leitura então nunca adoto nenhum livro como preferido ou releio, seja ele qual for, porém novamente à pedidos de um outro curso que estou fazendo fui obrigada a ler novamente para resumi-lo, no entanto, não sei se foi porque estava lendo pela segunda vez, ou porque o livro é altamente riquíssimo, só sei que eu encontrei detalhes relevantes que antes passara por despercebido. Nossa! o livro é muito mais maravilhoso do que realmente acreditava que fosse, como é possível que eu não tenha lhe dado o seu verdadeiro valor? Então, como meio de remediar a minha falta de consideração por uma obra genuinamente brasileira, disponibilizo uma síntese muito mais que compacta, mas com os pontos que defendo como mais relevantes para que todos percebam como a temática apresentada pelo livro é algo tão antigo e atual ao mesmo tempo e que está inserido "hipodermicamente" em nossa sociedade e que merece ser discutido e refletido seriamente. Um livro que realmente entende a língua dos brasileiros. leia, reflita e deleite-se.
CAPÍTULO I
A Mitologia do Preconceito Lingüístico: mitos
Existe uma tendência em lutar contra os mais variantes tipos de preconceito, mostrando que nenhum deles tem fundamento ou justificativa. Porém, essa tendência ainda não atingiu o preconceito lingüístico, e o que vemos é ele se alimentando diariamente em programas de TV, rádio, jornais, revistas e principalmente os livros didáticos. O mito de que a língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente é o mais sério dos mitos que compõem o preconceito lingüístico no país. Isto porque mesmo que a língua falada pela população seja o português esse idioma apresenta um alto grau de diversidade, sendo causado tanto pela grande extensão territorial do país com pela grande injustiça social. Porém, a autora Stella publicou em seu artigo alertando sobre a ideia de que no Brasil somos monolinguistas, mas não possuímos uma homogeneidade lingüística. Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem português essas duas opiniões refletem o complexo de inferioridade de sermos até hoje uma colônia dependente de um país mais antigo e mais "civilizado". O brasileiro sabe português sim. O que acontece é que o nosso português é diferente do português falado
em Portugal. A língua falada no Brasil, do ponto de vista lingüístico já tem regras de funcionamento, que cada vez mais se diferencia da gramática da língua falada
em Portugal. Na língua falada, as diferenças entre o português de Portugal e o português falado aqui no Brasil são tão grandes que muitas vezes surgem dificuldades de compreensão. O único nível que ainda é possível uma compreensão quase total entre brasileiros e portuguesa é o da língua escrita formal, porque a ortografia é praticamente a mesma, com poucas diferenças. Concluí-se que nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais bonito ou mais feio: são apenas diferentes um do outro e atendem às necessidades lingüísticas das comunidades que os usam, necessidades lingüísticas que também são diferentes. "Português é muito difícil" essa afirmação consiste na obrigação de termos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós. No dia em que nossa língua se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil, é bem provável que ninguém continue a repetir essas bobagens. Todo falante nativo de um língua sabe essa língua, pois saber a língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela. A regência verbal é caso típico de como o ensino tradicional da língua no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português. Por mais que o aluno escreva o verbo assistir de forma transitiva indireta, na hora de se expressar passará para a forma transitiva direta: "ainda não assisti o filme do Zorro!" Tudo isso por causa da cobrança indevida, por parte do ensino tradicional, de uma norma gramatical que não corresponde à realidade da língua falada no Brasil. As pessoas sem instrução falam tudo errado. Isso se deve a crença que não é linguística, mas social e política as pessoas que dizem Cráudia, Praca, Pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sobre o mesmo
preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada pobre, quando na verdade é apenas diferente da língua ensinada na escola. Assim, o problema não está naquilo que se fala, mas em quem fala o quê. Neste caso, o preconceito lingüístico é decorrência de um preconceito social. "O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão". Na realidade o Maranhão ainda usa o pronome
tu, que está em extinção na fala brasileira. Somente por esse arcaísmo, na língua falada se acha que o neste estado brasileiro se fala melhor o Português. Sendo assim, o que acontece com o português do Maranhão em relação ao português do resto do país é o mesmo que acontece com o português de Portugal em relação ao português do Brasil: não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente "melhor", que outra. Toda variedade lingüística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam. Quando deixar de atender, a ela inevitavelmente sofrerá transformações para se adequar à novas necessidades. "O certo é falar assim porque se escreve assim" – o que acontece é que em toda língua mundo existe um fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico. A ortografia oficial é necessária, mas não se pode ensiná-la tentando criar uma língua falada "artificial" e reprovando como "erradas" as pronúncias que são resultados naturais das forças internas que governam o idiomas. "É preciso saber gramática para falar e escrever bem". É difícil encontrar alguém que descorde dessa afirmação. Mas, por que tal declaração é um mito? Porque, segundo Mário Perini em Sofrendo a gramática (p.50), "não existe um grão de evidência em favor disso; toda a evidência disponível é em contrário". Afinal, se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores, e os bons escritores seriam especialistas
em gramática. A gramática normativa é decorrência da língua, é subordinada a ela, dependente dela. Como a gramática, porém, passou a ser um instrumento de poder e de controle. A língua passou a ser subordinada e dependente da gramática. "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social", esse mito tem muito que ver com o primeiro, porque ambos tocam em sérias questões sociais. A transformação da sociedade como um todo está em jogo, pois enquanto vivermos numa estrutura social cuja existência mesma exige
desigualdades sociais profundas, toda tentativa de promover a "ascensão" social dos marginalizados é, senão hipócrita e cínica pelo menos de uma boa intenção paternalista e ingênua.
CAPÍTULO II
Os mitos analisados são transmitidos e perpetuados por um mecanismo chamado de círculo vicioso do preconceito lingüístico que é formado pela união de três elementos: a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos. Porém existe um quarto elemento, os comandos pragmáticos, que são todos os arsenais de livros, redações jornalísticas, manuais, programas de rádio e de televisão, colunas de jornais e revistas e entre outros. Seria muito importante se esse poder dos meios de comunicação fossem usados para a destruição dos mitos do preconceito linguístico, mas não é assim. Para os comandos pragmáticos não faltam exemplos, como: o professor Napoleão Mendes de Almeida, o maior propagador do preconceito linguístico, além de manifestar em seus textos o seu profundo preconceito social, ele defendia que o estudo da linguística é fixar inúteis bizantinices onde realizava suas idéias sem nenhum fundamento cientifico. Na mesma linha de pensamento Luiz Antonio Sacconi publicou o livro “Não erre mais”, onde apresenta inúmeros erros dos fenômenos lingüísticos, e erros de conduta: preconceituosas e antiéticas. E por fim, a ultima investigação de presença do preconceito lingüísticos em comandos pragmáticos se usará uma coluna de jornal de Dad Squarisi, onde a autora parece concordar com o Presidente da época Fernando Henrique Cardoso que acusou os brasileiros de serem todos caipiras em sua declaração numa visita a Portugal. Neste texto, Squarisi consegue exercer todas as formas de preconceito lingüístico. Isto tudo só reflete a ignorância da autora em desconhecer a complexidade dos fenômenos lingüísticos.
CAPÍTULO III
Devemos reconhecer que existe atualmente uma crise no ensino da língua portuguesa. E professores já reconhecem que a gramática normativa já não é a única fonte de explicação para os fenômenos linguísticos. A norma culta assim como a saúde, alimentação, educação, habitação, transporte e entre outros, não estão acessíveis a todos. Podemos identificar três problemas básicos: o primeiro que a quantidade injustificável de analfabetos no Brasil, em segundo que pode ser por razões históricas e culturais e por ultimo ao dilema relativo à norma culta que designa pelos conservadores o uso de uma lingüística inspirada no português de Portugal que não corresponde à língua efetivada aqui pela maioria dos brasileiros. É necessário separa o ideal do real e para isso é preciso empreender a identificação e a descrição da verdadeira língua falada e escrita pelas classes cultas do Brasil, é uma tarefa que já está sendo feita, mas ainda não são de acesso fácil, pois está em uma linguagem técnica e exige o rigor cientifico. Mas enquanto não fica acessível é preciso já ir combatendo todo esse preconceito lingüístico. O professor em vez de só repetir deve refletir, ou seja, o professor não deveria limitar-se a transmitir a velha doutrina gramatical normativa. É necessário questionar. Nessa nova postura o professor deve sempre procurar acompanhar os avanços das ciências da linguagem e da educação. Produzindo o seu próprio conhecimento da gramática. Para romper o círculo vicioso é preciso rever toda uma série de velhas opiniões formadas. Os métodos tradicionais de ensino da língua no Brasil visam a formação de professores de português. O ensino da gramática se dá numa obsessão terminológica, paranóia classificatória e apego a nomenclatura. Tudo isso não garante que o aluno será um usuário competente da língua culta. Outra forma de romper com círculo vicioso do preconceito lingüístico é reavaliar o conceito de erro. Em cartazes quando aparecem “erros” não são de português são “erros” de ortografia. Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna. Em relação à língua escrita, é pedagogicamente melhor definir erro como tentativa de acerto. A escrita é uma forma de analisar a língua falada. Neste caso o papel do professor será de conscientizar o aluno de que a língua é um grande guarda roupa. Ninguém vai de maiô ao shopinng center, nem via à praia em dia quente usando terno de lã. Usar a língua tanto a modalidade oral como a escrita é encontrar o equilíbrio entre adequabilidade e o da aceitabilidade.
CAPÍTULO IV
O ensino da língua na escola é a única disciplina em que existe uma disputa entre duas perspectivas distintas: a doutrina gramatical tradicional, do século III a.C., e linguística moderna, do final do século XIX a início do XX. A gramática tradicional permanece forte ao longo da história. Mas, querer cobrar atualmente os mesmos padrões linguísticos do passado é querer preservar idéias, mentalidades e estruturas sociais do passado. O novo assusta porque compromete as estruturas de dominação. Por isso, ainda se vê a imprensa brasileira tentando preservar noções conservadoras de “certo” e “errado”. O grande problema está na confusão que predomina na mentalidade das pessoas que atribuem uma “crise” a língua, mas a crise existe é na escola, em nosso sistema educacional, considerado uns dos piores do mundo. Achar que a língua está em crise e que para superá-la é preciso sustentar a doutrina gramatical, essa atitude só pode ser explicada como ignorância científica ou desonestidade intelectual que é fato de mesmo depois de entrar em contato com a ciência linguística, finge que não a conhecer. Essa oposição à ciência linguística está viva até hoje. Napoleão Mendes de Almeida é um exemplo de conservador e intolerante que possui uma postura anticientífica, seu português já foi chamado de ortodoxo. O conceito de ortodoxo tem noções de dogma, intolerância, castigo, pecado e outras aparentadas. Se ainda é possível falar em “português ortodoxo” é porque deve existir na mente de seus defensores a ideia de que o oposto desse português ortodoxo é um “português pecador”. Porém, o “português ortodoxo” pode ser visto diferente como Pasquele Cipro Neto, que classifica como ortodoxo o português mais certa que a língua dos gramáticos profissionais. Em um caso de preconceito linguístico, não por discriminação, mas por omissão. O projeto de lei de 1999 sobre “a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa” o deputado Aldo Rebelo, não faz nenhuma referência aos cientistas da linguagem. Dos poucos citados uma é Machado de Assis que na citação Machado desmente cada uma das ideias contidas no projeto. E os outros autores são jornalistas, o único autor que realmente tem a ver com o estudo é, Napoleão Mendes Almeida. A situação desse projeto de lei tem manifestado diversas opiniões de linguistas contra, mas ninguém dá ouvido. É o caso de perguntar: Por que toda e qualquer pessoa se acha no direito de dar palites preconceituosos sobre questões que dizem respeito a língua? Por que profissionais de outras áreas conseguem se fazer ouvir, mas os linguistas não? Será que eles não dão conta de seu papel social e político? A quem interessa manter calado os estudiosos da língua?